Na sua mensagem da Quaresma deste ano, “Ascese
quaresmal, itinerário sinodal”, o Santo Padre, apresenta-nos, no evangelho
do 2º domingo (a Transfiguração), Pedro, João e Tiago subindo juntos com
Cristo, como comunidade, ao monte santo para que, depois de Ele lhes ter
anunciado o grande escândalo da cruz que os deixou angustiados e amedrontados,
lhes revelar o que está para além da cruz: ”tanto no itinerário litúrgico como
no do Sínodo, a Igreja não faz outra coisa senão entrar cada vez mais profunda
e plenamente no mistério de Cristo Salvador. (…) Com frequência também o
processo sinodal se apresenta árduo e por vezes podemos até desanimar; mas
aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente,
que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão ao
serviço do seu Reino”.
Para que tal aconteça, Francisco aponta dois caminhos.
O primeiro é o da escuta: «Escutai-O!» “A
Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos
fala”.
Nesta afirmação, vejo um apelo para falarmos menos e
escutarmos mais. Não abusemos dos meios de comunicação ao nosso dispor para
divulgar as nossas opiniões pessoais, do púlpito da homilia às redes sociais.
Façamos silêncio como aquele que se faz após os sismos para mais facilmente
ouvir e identificar ruídos e apelos provenientes dos escombros. Assim, perante
os destroços provocados pelos relatórios recentes dos abusos sexuais na Igreja
em Portugal, mais do que teorizar sobre causas e culpas, importa fazer
silêncio para escutar Deus, o único que nos pode iluminar, purificar e
transformar.
Incentivo igualmente a prática individual e em comunidade
de oração silenciosa. Abstenhamo-nos de comentários, admonições,
intercessões públicas, testemunhos. Reze cada um os seus sentimentos mais
íntimos, experimentando a proximidade de Jesus que prometeu estar em todos os
momentos e circunstâncias com a Sua amada Igreja.
O segundo caminho é o da descida da montanha para a
planície, em sinodalidade.
“A Quaresma orienta-se para a Páscoa: o «retiro» não é um
fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a
paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição. Também o percurso sinodal
não nos deve iludir quanto ao termo de chegada (…), pois aí o Senhor também nos
repete: «Levantai-vos e não tenhais medo». Desçamos à planície e que a graça
experimentada nos sustente para sermos artesãos de sinodalidade na vida
ordinária das nossas comunidades”.
2. Ocorre durante a Quaresma, a “Semana Caritas”,
entre o 2.º e o 3.º Domingos. Convido todos a participar nas iniciativas que a
Direção da nossa Caritas Diocesana organiza e divulga. A recolha de ofertas em
dinheiro não é o objetivo único, nem mesmo o mais importante. No entanto, com o
agravamento do custo de vida, sobretudo na alimentação, energia e habitação, é
cada vez maior o número de irmãos em situação de pobreza. A Caritas
carateriza-se por ser uma especial forma de praticar a “caridade organizada”,
como lembrou o Papa Bento XVI na sua primeira encíclica, “Deus é Amor”: “As
organizações caritativas da Igreja, a começar pela Cáritas (diocesana,
nacional e internacional), devem fazer o possível para colocar à disposição os
correlativos meios e sobretudo os homens e mulheres que assumam tais tarefas.
(…) É que se trata de seres humanos, e estes necessitam sempre de algo mais que
um tratamento apenas tecnicamente correto: têm necessidade de humanidade,
precisam da atenção do coração” (33).
3. A renúncia quaresmal é também uma forma
de amor. A penitência (tempo dedicado à oração, o jejum e a esmola) marca a
vida cristã particularmente a Quaresma, oferecendo, por um lado, uma pedagogia
de libertação do egoísmo e da dependência dos bens materiais; por outro lado, a
penitência permite-nos, mesmo do pouco que temos, reunir e partilhar alguns
bens com os mais pobres, nem que sejam as duas únicas moedas que a viúva pobre
tinha e ofereceu no templo (cf. Mc 11, 41-44).
Tal como no ano passado, metade da renúncia ficará na nossa
diocese para apoiar famílias com maiores carências; a outra metade será
oferecida à Igreja católica da Ucrânia, em ordem à reconstrução de igrejas e
seminários.
4. A Jornada Mundial da Juventude de Lisboa aproxima-se.
Há ainda muito a fazer para a preparar, quer logística, quer espiritualmente. O
tempo de Quaresma é propício para reforçar a preparação espiritual. Começaremos
com uma VIA SACRA na Quinta do Conde na próxima sexta-feira, dia 24, com início
às 21.15.
Apelo aos jovens, animadores e párocos com palavras recentes
do Papa Francisco dirigidas a assistentes da pastoral juvenil de Barcelona:
“A experiência dos apóstolos tem sempre um duplo aspeto,
pessoal e comunitário. Estão juntos e não podemos separá-los. Somos chamados
individualmente, mas sempre para fazer parte de um grupo maior, para caminhar
juntos escutando antes de falar, para nos sabermos colocar onde é oportuno, se
no meio ou atrás, não apenas à frente”.
“Desprezemos o carreirismo, a vida dupla, a procura das
satisfações mundanas, abraçando a cruz e as mediações da Igreja: sacramentos,
vida de oração, ascese, etecetera. Ao mesmo tempo, devemos ser
capazes de misericórdia precisamente porque tocados pela misericórdia do
Senhor, não dando lições, mas testemunhando uma experiência de intimidade com
Deus.” (Roma, 28 de janeiro de 2023)
Votos de purificadora e revigorante Quaresma, na comunhão de
oração pela nomeação do novo Bispo por que tanto ansiamos.
Padre José João Aires Lobato, Administrador Diocesano
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